Após 6 meses de operação, Uber em Friburgo enfrenta dilema
Preço alto da gasolina e do GNV, subidas íngremes,
estradas de terra esburacadas, engarrafamentos cada vez mais
frequentes e uma taxa que morde 25% do valor apurado em cada viagem. Seis meses
após a chegada da Uber em Nova Friburgo, o aplicativo de transporte alternativo
on-demand continua à espera de regulamentação e esbarra em um dilema: o mesmo
preço baixo que empolga os passageiros desanima os motoristas.
As queixas partem sobretudo dos motoristas, que se
sentem prejudicados pelo achatamento forçado dos preços praticados pela
empresa. “São 75 centavos por quilômetro, a tabela mais baixa do Brasil”,
repetem.
Contentamento mesmo, só por parte dos passageiros, que agora chamam
Uber para subir morros com compras de supermercado, viajar quase de graça até
cidades vizinhas e fazer trajetos simples de carro que, em táxis comuns,
sairiam quatro vezes mais caro.
“É uma beleza. Hoje pago R$ 7 até a porta de casa,
com todo o conforto, por uma corrida que antes custava bem mais de R$ 20. O
equivalente a duas passagens de ônibus”, elogia uma passageira, moradora do
Alto do Cordoeira que virou freguesa.
“Não sobra quase nada para a gente”
A felicidade só acaba quando e se o motorista decide
fazer as contas antes de aceitar o trajeto, especialmente os mais longos.
“O único problema é que nem sempre eles topam,
principalmente se for para mais longe”, diz outra passageira, que teve
rejeitado um trajeto com o marido da Ponte da Saudade até Lumiar.
A coleção de cédulas de R$ 2 nos bolsos de
motoristas estreantes confirma a preferência por corridas curtas. “Está sendo
uma experiência e tanto. Mas ainda não dá para dizer se realmente compensa”,
diz um novato, lamentando que uma viagem até o Rio, por exemplo, saia por menos
da metade do cobrado por um táxi convencional. “Outro dia queriam ir até Vargem
Grande, na Zona Oeste do Rio. A Uber fixou em R$ 150.
Descontando pedágio e
combustível, não sobra quase nada para a gente”, diz ele, que acabou não tendo
alternativa senão refugar a viagem.
“É desanimador. Trabalhei meio período hoje e fiz só
R$ 25, fora o combustível”, desabafava um veterano na última sexta-feira, 27.
Cada viagem, uma taxa
Diante da insatisfação de boa parte dos motoristas
em Friburgo, a Uber informa, de São Paulo, que desde o fim de junho já deixou
de cobrar a taxa fixa de 25% por viagem. “O valor passou a levar em conta o
tempo e a distância efetivamente realizados, ajustando-se automaticamente pelo
sistema independente de variações em relação à estimativa”, diz a empresa.
Ou seja, se o preço antecipado calculou uma viagem
em 5 km e 15 minutos, mas, devido a engarrafamentos e desvios, o percurso foi
maior e durou mais tempo, o motorista recebe mais. Por outro lado, se a viagem
for mais curta, o motorista recebe menos. Além disso, continua compondo o ganho
do motorista o chamado “multiplicador de preço dinâmico” - aquele gatilho que
aumenta, e muito, para o passageiro o valor da corrida quando a demanda é alta (em
dias de chuva, por exemplo) ou a oferta é baixa (geralmente à noite).
“O km mais barato e o gás mais caro”
A flexibilização da taxa, no entanto, pouco animou,
até agora, os motoristas friburguenses, que se dizem uns 200 (muitos desistem).
Na prática, segundo eles, continua tudo igual, ou até pior. “Temos o quilômetro
mais barato da Uber e o gás mais caro do Brasil. A conta não fecha. Aqui é
assim, parece uma pirâmide: entram 50, saem 60; entram 100; saem 80
(motoristas).
Quem vai virar a noite ganhando 75 centavos por quilômetro? Outro
dia um colega levou um passageiro a Cordeiro por R$ 60. Recebeu só R$ 32 da
Uber. Pagou R$ 22 de pedágio. É uma miséria”, revolta-se um deles.
O motorista Ademir Moraes é um dos desistentes. Há
cerca de dois meses, trocou o volante pela venda de lingerie. “Numa cidade
grande como o Rio você é Uber, leva alguém e, na volta, já tem passageiro
chamando. Aqui em Friburgo normalmente a gente volta vazio”, compara.
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