Ponto Final:Fora do ringue eleitoral e sob risco de ser preso, o que resta a Garotinho?


Garotinho e Tyson

Quem viveu em Campos na segunda metade dos anos 1980, com alguma consciência da cidade e do mundo, deve se lembrar de dois jovens que revolucionaram em suas áreas: Anthony Garotinho e Myke Tyson. O primeiro tinha apenas 28 anos quando se elegeu prefeito do município pela primeira vez, em 1988. Dois anos antes, o segundo havia sido o campeão mundial peso pesado de boxe mais novo da história, título que conquistou aos 20 anos. Ambos impressionavam por características comuns: o talento natural indiscutível, a agressividade no estilo, a impiedade com os adversários, a obsessão pela vitória. E elas foram muitas.

Ficha Suja

Na manhã de ontem, Garotinho teve sua condenação pela Lei da Ficha Limpa confirmada por unanimidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Antes, a condenação já havia sido unânime no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). As duas foram consequência de uma outra condenação, por improbidade administrativa, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O motivo de tantas condenações, uma criminal e duas eleitorais, se deve pelo mesmo fato: o desvio de R$ 234,4 milhões da Saúde, no governo estadual de Rosinha, que seriam usados para financiar sua campanha presidencial em 2006.

Tempos de Cabral e Temer

Com o desvio revelado pela mídia à época, Garotinho fez uma greve de fome de 11 dias. Nela não foi até o fim, como pediram alguns gaiatos. Ele interrompeu o protesto para ir à convenção do PMDB, quando era aliado íntimo de Sérgio Cabral. Não teve o nome confirmado, no que teria sido um golpe do hoje presidente Michel Temer, 10 anos antes do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Com o sonho desfeito de também chegar à presidência, as consequências cobraram o preço 18 anos depois. Se a justiça tardou, não se pode dizer que tenha falhado. O político da Lapa agora não pode nem tentar voltar a ser governador.

Só o STF salva

Segundo todas as pesquisas, Garotinho já não conseguiria voltar ao poder. Na Ibope divulgada no dia 25, ele até empatou com Romário (Pode) no segundo lugar das intenções de voto. Mas com uma espantosa rejeição de 50%, mesmo se chegasse ao segundo turno com o líder Eduardo Paes (DEM), lá levaria uma coça: 24% a 41%. Na dúvida, certo é que o político de Campos está fora da campanha eleitoral. Seu retrato ainda aparecerá nas urnas eletrônicas já inseminadas de 7 de outubro. Mas quem por ele optar, não terá o voto reconhecido. Só uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) mudaria essa realidade melancólica.

Sobrevida nos filhos

Garotinho não está morto. A reeleição de Clarissa (Pros) como deputada federal é considerada certa. Ela pode ser novamente uma das mais votadas no Estado. Wladimir também tem chances à Câmara Federal. Se conseguir, passará a mirar a eleição a prefeito de Campos em 2020. Os dois filhos têm orgulho do legado do pai. Mas dificilmente continuarão a se submeter aos seus caprichos. Clarissa não aceitará mais ser humilhada, como foi na votação do impeachment de Dilma, com sua ausência trocada pela “venda do futuro” de Campos. E Wladimir não aceitará mais ser descartado, como foi na eleição a deputado estadual de 2014.

Quarta prisão?

Fora de uma eleição na Justiça, quando tudo indica que seria também pelo voto, o político da Lapa precisa se adequar à realidade. Sobretudo porque depois de ser preso duas vezes pela operação “Chequinho” e uma pela “Caixa D’Água”, ele pode acabar atrás das grades pela quarta vez. É ameaça a cada dia mais iminente com sua condenação como chefe de quadrilha armada confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), pela atuação como secretário de Segurança da gestão estadual Rosinha. E dizer publicamente que “só falta juiz ser preso”, como fez no último debate a governador do SBT, não melhora em nada sua situação.

Mordida na orelha

O político da Lapa teve seu auge na eleição presidencial de 2002. Em terceiro lugar, fez 15 milhões de voto e quase foi ao segundo turno. Ainda elegeu Rosinha governadora naquele mesmo ano, em turno único. Isso deveria ser pendurado na parede como cinturão de um campeão que o tempo envelheceu aos ringues. Garotinho tem só 58 anos. Mas, como Tyson, teve um início tão precoce quanto a decadência. Ainda no primeiro turno, perdeu as eleições de governador, em 2014, e pela Prefeitura de Campos, em 2016. Não bastou para reconhecer que sua glória virou lembrança. E acabou desclassificado como quem mordeu a orelha.

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