Cúpula política reunida na prisão
O Rio de Janeiro é o principal cartão postal do
Brasil e a porta de entrada de grande parte dos turistas estrangeiros, mas,
além do problema crônico da violência, a imagem do estado foi abalada nos
últimos anos pelos sucessivos escândalos de corrupção que atingiram em cheio os
poderes Executivo e Legislativo, além de órgãos teoricamente independentes de
fiscalização, como o Ministério Público Estadual (MP) e o Tribunal de Contas do
Estado (TCE). A prisão do governador Luiz Fernando Pezão (MDB) chama a atenção
para o fato de a cúpula da política fluminense, nos últimos 20 anos, estar ou
já ter passado pela cadeia, incluindo os últimos quatro governadores eleitos,
dez deputados estaduais – inclusive três ex-presidentes da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) –, cinco conselheiros do TCE e
um ex-procurador-geral de Justiça.
A denúncia que levou Pezão para a prisão dá conta de
que o governador recebeu, nos últimos anos, cerca de R$ 39 milhões em propina –
em valores corrigidos – e que não só deu continuidade ao esquema criminoso do
seu antecessor, Sérgio Cabral (MDB), como se tornou chefe do próprio.
Ex-prefeito e ex-vereador de Piraí, no Sul Fluminense, Luiz Fernando Pezão foi
secretário da então governadora Rosinha Garotinho em 2005 e eleito
vice-governador no ano seguinte, na chapa de Cabral, com quem também acumulou a
pasta de Obras.
Em recente entrevista, Pezão disse que tinha vontade
de visitar e dar um abraço em Cabral, preso há dois anos e condenado a mais de
100 anos de prisão por diversos crimes de corrupção. Agora será companheiro de
sistema prisional de outros colegas, como os ex-presidentes da Alerj, Jorge
Picciani (MDB) e Paulo Melo (MDB), além do ex-líder do seu governo no
Legislativo, Edson Albertassi (MDB), presos desde novembro do ano passado na
operação Cadeia Velha, acusados de receberem propina para beneficiarem
empresários do transporte.
Em circunstâncias diferentes, os ex-governadores
Anthony e Rosinha Garotinho também passaram pela cadeia. O primeiro a inaugurar
a galeria de ex-chefes do Estado encarcerados foi Garotinho, que foi preso pela
primeira vez em 16 de novembro de 2016, dentro da operação Chequinho.
No dia 13
de setembro do ano seguinte, o político da Lapa teve a prisão domiciliar
decretada após condenação em primeira instância por uso eleitoral do Cheque
Cidadão. Já no dia 22 de novembro de 2017, Garotinho e a esposa foram alvos da
operação Caixa d’Água, suspeitos de receberem caixa dois e coação de
empresários locais.
No início de novembro, outros sete deputados
estaduais foram presos na operação Furna da Onça por, segundo a denúncia, terem
loteados politicamente cargos do Detran e recebido “mensalinhos” de até R$ 200
mil.
Órgãos que deveriam fiscalizar o Executivo e o
Legislativo também foram cooptados pelo esquema de corrupção, segundo o Ministério
Público Federal (MPF). Cinco conselheiros do Tribunal de Contas e o
ex-procurador-geral de Justiça — o chefe do Ministério Público — também foram
presos. Os conselheiros respondem em liberdade.
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